Coletânea sobre o amor

Penumbra

E lentamente ele se aproximou dela
pelas costas encurvadas, silenciosamente
distraída, ela pintava
absorta em pensamentos aleatórios
e ele sorrateiramente se esgueirou pelas curvas de seu corpo
tirando-a daquela calma
e silêncio.
Na surdina os dois fizeram amor,
na surdina da vida.
E os dias passavam depressa e lentos,
em cada raio de sol eles eram calor.
Em cada dia de chuva
os dois eram amor.
Ele andava pela casa como um fantasma,
passos leves,
e ele andava pela casa como um dançarino,
passos rítmicos.
E lentamente ele se afastou dela
de costas encurvadas ela silenciava
distraída ela pintava,
absorta em memórias
ela escutou os passos atrás de si,
se virou e percebeu
que era só mais um fantasma da falta

***
eu quero descer nas profundezas íngremes
das tuas curvas solitárias
se eu pudesse mentir e dizer que não há nada
mas não tenho essa possibilidade,
toda vez que me afasto, percebo, estou mais perto
quando ouso não te olhar desvio pra longe
só pra te encontrar no canto da sala
ai, se eu pudesse mentir pra mim
e dizer que não há nada
eu me sentaria e veria um filme com calma
mas eu não consigo esconder e nos meus olhos
está ali, pra quem quiser ver
e eu vejo em você teu humor afiado
e inteligência rara
eu vejo em você o que não vejo em mim
e vejo em mim um pedaço que cabe a você
mas como te pedir algo tão grande?
“ei, você, isso você, vem aqui me preencher,
vem aqui que agora a gente vai viver uma história,
vem aqui que eu quero te fazer perceber
que você é a peça rara da minha vida”
eu não posso exigir
que você seja em mim o que eu não consigo ser
então, se tiver que ser assim
eu aprendo com você e sou meu todo
pra que quem sabe
nós dois sejamos dois.

***
Hei de conhecer-te por inteiro
explorar-te com meus dedos
saber dos cabelos aos pentelhos,
dos gemidos aos gracejos.

Hei de ter-te nos meus braços
entregue aos meus afagos.
Hei de acender chama
e apagar na cama
num amor carnal
e ser bem mais do que um amante banal.

Quero saber de ti
das tuas rugas enquanto ri.
Quero conhecer todos os teus medos
portar os teus segredos.

Um dia hei de me perder em cada curva tua
e ter a tua carne nua
e olhar-te nos olhos
até perder as horas.
Tu hás de morar onde moro
e eu de enxugar-te as lágrimas quando choras.

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